CASOS DO BECO DAS SARDINHEIRAS: MÁRIO DE CARVALHO

“Casos do Beco das Sardinheiras” conta episódios da vida quotidiana dos habitantes de um beco lisboeta que cruza com a Rua dos Eléctricos, algures entre Alfama e Mouraria. O Beco das Sardinheiras parece ser um beco vulgar, com casas velhas, chão empedrado, vasos nas varandas... Mas as ocasiões que ocorrem no beco não têm nada de vulgar!
Na primeira ocasião é-nos contada a história de como o Armando da Mula engoliu a Lua; na ocasião seguinte descobrimos que a gata Tareca do Manuel da Ribalda pariu um grande gato (o Gigas) que se veio a descobrir ser uma pantera assassina de polícias e outros homens fardados; num domingo, o Virgolino Alpoim descobre uma corda que desce do céu sem estar, aparentemente, presa a lado algum. Outra ocasião é a da pedra preta que ninguém conseguia levantar (inclusive o Chico Estivador, que tem fama de ser o mais forte do Beco das Sardinheiras) e apenas o Pedrinho (um rapazinho de onze anos) levantou. Noutra ocasião, o Pedrinho e uns amigos do beco ousam entrar na gateira (uma casa com uma porta que possuía um orifício por onde circulava a gataria do beco) mesmo sabendo que os adultos os haviam proibido e encontram uma torneira que ao ser aberta provoca a queda de uma coluna de água vinda do céu. Já o Zeca da Carris descobre, na ocasião seguinte, que tem uma divisão gelada em sua casa e desiste de comprar um frigorífico. O Quim Ambrósio (o maior falador do Beco das Sardinheiras) é que não teve sorte nenhuma, pois à saída do beco levou com uma telha na cabeça e a partir desse dia passou a falar uma língua estranha que ninguém entendia. Mas as estranhas ocasiões que ocorrem no Beco das Sardinheiras não ficam por aqui: houve ainda uma nuvem de chuva que seguia as pessoas (e acabou enterrada e transformada em chafariz do beco), o trombone que alongava objectos cada vez que o tio Bento tocava, um marco de correio que funcionava como teletransportador de estrangeiros e um padre alentejano que fazia experiências estranhas com resultados pouco católicos.
Ninguém sabe ao certo porque ocorrem todas estas situações sobrenaturais no beco, mas os seus habitantes apontam a culpa ao facto do Armando da Mula ter engolido a Lua.
Não haja dúvida que o Beco das Sardinheiras é um beco singular.
Parte que mais gostei: O epílogo, quando o Zeca da Carris, o Chico Estivador e o Zé Metade vão a casa do escritor, tentar convencê-lo a continuar a escrever as histórias do Beco das Sardinheiras e Mário de Carvalho explica-lhes que não pode escrever apenas sobre “os pequenos casos do Beco das Sardinheiras e da sua arraia-miúda” alegando que lhe chamariam “escritor menor” e o acusariam de “fazer literatura de miuçalha, de facilidade, de pechisbeque, de cutiliquê, literatura patchuli, literatura pataqueira”.
Parte menos interessante: a ocasião “O padre alentejano”. Não achei a história tão divertida e interessante como as restantes.
Referências: Disponível: http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/portugues/10_casos_do_beco_das_sardinheiras_d.htm Acesso:09.08.16.
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