Ler por prazer no ritmo do cordel
NOVA ESCOLA responde oito perguntas sobre como trabalhar a literatura de
cordel na sala de aula
ARTE
POPULAR Na CEIEF Aracy Nogueira Guimarães, a professora Ana Cristina Adão
transformou a literatura de cordel em conteúdo de Língua Portuguesa para sua
turma de 4º ano. Os principais objetivos: ampliar o repertório dos estudantes e
desenvolver na meninada o comportamento leitor.Se você nunca pensou em
apresentar literatura de cordel aos seus alunos, por considerá-la pobre ou
popular demais, saiba que está cometendo um erro de avaliação. Primeiro porque
popular não é sinônimo de má qualidade. Depois porque esse gênero literário é
riquíssimo tanto na forma como no conteúdo. Tão rico que muitos especialistas
costumam considerá-lo uma ferramenta excepcional para desenvolver na garotada o
comportamento leitor. O que faz da poesia de cordel um instrumento capaz
de estimular o hábito da leitura são características que costumam encantar as
crianças, entre elas a musicalidade das rimas, a temática, que geralmente
remete à cultura nordestina, e as metáforas, que abrem caminho para boas
discussões. Já que é assim, por que não usar o cordel para ampliar o repertório
da turma? NOVA ESCOLA foi ouvir quem entende do assunto para elucidar algumas
dúvidas sobre como trabalhar com a leitura desse tipo de texto.
1 Qual é a melhor maneira de ler a poesia de
cordel para os alunos em sala de sala?
O ideal é que você
prepare a leitura com antecedência para dar o devido destaque ao ritmo e à
musicalidade proporcionados pelas rimas. Treine a entonação, lembrando-se
sempre de que é recitando de modo expressivo que os cordelistas atraem
compradores para os seus folhetos. O professor deve atuar como modelo de
leitor, questionando as intenções do autor ao escolher determinadas expressões
e ajudando na construção do sentido (leia a
sequência didática). Informe-se sobre a história e a estrutura
poética. Se contar com os recursos necessários, reproduza gravações de cordel
em sala de aula. Assim, os alunos terão referências da relação entre o texto e
a oralidade típica do gênero.
2 E os estudantes, como devem fazer a leitura?
Ler em voz alta é
bom, já que o cordel está fundamentado na oralidade. "Pedir que os alunos
levem cordéis para casa e leiam para seus pais é uma boa maneira de
aproximá-los do gênero", diz Hélder Pinheiro, professor da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG).
3 Depois de ler, o que discutir com as
crianças?
Regionalismos,
metáforas e palavras que fogem da grafia-padrão, por exemplo.Fatos históricos e
aspectos culturais referentes à narrativa também devem ser abordados. Se você
intercalar a leitura de cordéis com a de outros gêneros literários, discuta as
diferenças entre eles.
4 De que forma explicar palavras fora do
padrão?
Os desvios
ortográficos típicos do cordel têm origem na estreita relação do gênero com a
linguagem oral. Explique que, nesse contexto, eles não são considerados erros,
mas traços da fala coloquial e da cultura popular que refletem o ambiente no
qual o cordel foi criado.
5 Como abordar regionalismos e metáforas?
Esses elementos
refletem o diálogo do sertanejo com suas crenças e seus dilemas cotidianos. É
fundamental, portanto, que você estude os cordéis que serão lidos para ajudar
seus alunos a compreendê-los. Preparar um glossário de termos regionais pode
ajudar bastante.
6 Quais devem ser os critérios na hora de
selecionar os textos que serão lidos?
Algumas poesias de
cordel têm linguagem chula ou pornográfica. Outros narram histórias violentas.
"Na hora de escolher as que serão lidas em sala de aula, é preciso
descartar aquelas que apresentem temática inapropriada", diz a professora
Ana Cristina Adão, que trabalha a leitura de cordéis com uma turma de 4º ano na
CEIEF Aracy Nogueira Guimarães em Limeira, a 150 quilômetros de São Paulo (leia
o quadro acima). Ana sugere que, levando em conta a experiência das crianças,
sejam selecionados textos que tratem, por exemplo, de lendas, festas regionais,
acontecimentos históricos ou simplesmente fatos cotidianos.
7 Dá para trabalhar o cordel no início da
alfabetização?
Sim. "A
métrica e a rima despertam a curiosidade das crianças", afirma Carlos
Alberto de Assis Cavalcanti, mestre em Literatura pela Universidade Federal de
Pernambuvo (UFPE). Apresentá-las ao gênero por meio de cordéis mais curtos,
como os escritos em quadras (estrofes de quatro versos) ou sextilhas (de seis),
é a melhor estratégia. Não fragmente o cordel. Durante o processo de
alfabetização, é importante que os pequenos compreendam o texto em sua
integralidade.
8 Onde encontrar boa literatura do gênero?
No Nordeste,
encontram-se folhetos à venda em livrarias e até bancas de jornal. Quem está em
outras regiões pode comprá-los pela internet, em sites de instituições como o Centro de Tradições Nordestinas,
a Academia Brasileira de Literatura de
Cordel e a Casa de Rui Barbosa ou de editoras como Luzeiro e Queima-Bucha. Outra
possibilidade é recorrer a livros como Feira de Versos (vários
autores, 136 págs., Ed. Ática, tel. 11/3990-1777, 28,90 reais) e O
Menino Lê (André Coelho, 32 págs., Ed. Dimensão, tel. 31/3527-8000, 27
reais).
Um pouco de teoria:Do sertão para o mundo
Uma das
características mais marcantes do cordel é a xilogravura que ilustra a capa dos
folhetos. A técnica é rústica: passa-se tinta sobre uma figura entalhada e
pressiona-se essa matriz sobre o papel, como se fosse um carimbo. Como a
ilustração sintetiza a história contada pelo cordelista, esse é mais um
elemento que pode ser explorado em sala de aula. O pernambucano J. Borges,
considerado o mais importante xilógrafo do Brasil, já teve seu trabalho exposto
até no Museu do Louvre, em Paris.
Disponível:http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/ler-prazer-ritmo-cordel-636143.shtml Acesso.08.03.16
Nenhum comentário:
Postar um comentário