Enquanto a Chuva Cai
A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.
Torvelinhai, torrentes do ar!
Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.
Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.
Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .
Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!
Disponível: http://www.vidaempoesia.com.br/manuelbandeira.htm Acesso: 29.03.16.A chuva cai. A chuva aumenta.Cai, benfazeja, a bom cair!Contenta as árvores! ContentaAs sementes que vão abrir!Eu te bendigo, água que inundas!Ó água amiga das raízes,Que na mudez das terras fundasÀs vezes são tão infelizes!E eu te amo! Quer quando fustigasAo sopro mau dos vendavaisAs grandes árvores antigas,Quer quando mansamente cais.Manuel Bandeira
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