segunda-feira, 21 de março de 2016

                                 

Cecília Meireles



Pássaro
 
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
 
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
 
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
 
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.

                                   Cecilia Meireles

Disponível:http://www.jornaldepoesia.jor.br/ceciliameireles03.html#passaro.Acesso:21.03.16

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